Diabetes e Obesidade em 2025: onde crescemos mais rápido?
Mapeando os hotspots de risco no Brasil
Imagine uma enfermeira em Belém notando que, nos últimos cinco anos, a fila de pacientes com glicemia alterada ficou mais jovem e mais longa. A mesma cena se repete em Salvador, Goiânia e nas periferias de São Paulo. Os números confirmam essa percepção: a prevalência nacional de diabetes tipo 2 chegou a nove por cento dos adultos, mas já passa de doze por cento no Sudeste e cresce duas vezes mais rápido no Norte e Nordeste. Paralelamente, o excesso de peso avançou de forma vertiginosa: projeções apresentadas no International Congress on Obesity indicam que quase metade dos brasileiros poderá estar obesa em 2044 se nada mudar.
O retrato de 2025
Nos grandes centros, obesidade e diabetes deixaram de ser “doenças de gente mais velha”. Na última década, adolescentes ganharam peso em ritmo inédito e adultos de trinta e poucos anos já recebem diagnóstico de diabetes tipo 2, algo raríssimo quinze anos atrás. Três motores explicam esse fenômeno:
Urbanização acelerada: mais tempo sentado, refeições fora de casa e presença constante de alimentos ultraprocessados.
Desigualdade alimentar: frutas e legumes custam caro, ultraprocessados não. Nas periferias, o deserto de opções saudáveis empurra famílias para calorias vazias.
Envelhecimento populacional: o país ganhou seis milhões de cidadãos acima dos sessenta anos entre 2015 e 2025, e diabetes cresce junto com a idade.
Onde o problema aperta mais
Historicamente, as regiões mais desenvolvidas apresentam mais casos. Em 2019, após ajuste por idade, o Sudeste e o Centro-Oeste registravam as maiores prevalências de diabetes do país, enquanto a região Norte tinha os índices mais baixos, reflexo da alta densidade urbana e de diagnósticos mais frequentes.
Norte e Nordeste mostram o crescimento mais acelerado. Capitais como Porto Velho, Manaus e Recife registram picos de obesidade entre mulheres jovens, enquanto cidades médias do interior nordestino já rivalizam com índices metropolitanos.
A prevalência de diabetes aumenta drasticamente com a idade. Pessoas com 65 anos ou mais têm um risco até 27 vezes maior de ter diabetes em comparação a adultos jovens. Grande parte dos casos conhecidos está em indivíduos de meia-idade para cima. Em 2021, por exemplo, mais de 60% dos brasileiros acima de 65 anos referiam hipertensão e cerca de 20%–25% tinham diabetes (estimativas), valores muito superiores aos observados em adultos jovens
Custos visíveis e invisíveis
O impacto vai muito além da balança. Estudos estimam que sobrepeso e obesidade drenaram dois por cento do PIB brasileiro em 2019, somando custos diretos e perda de produtividade. Se o ritmo continuar, é possível chegar a três por cento do PIB até 2030. A conta fica ainda mais salgada quando se incluem amputações, hemodiálises, aposentadorias precoces e dias de trabalho perdidos.
Três caminhos para virar o jogo
Criar ambientes de escolha fácil e saudável
Cidades que ampliaram ciclovias e reforçaram feiras livres observaram quedas modestas, porém constantes, no IMC médio da população. Empresas que oferecem refeições frescas subsidiadas colhem benefícios semelhantes.
Educação nutricional desde cedo
Em Niterói (RJ), um ensaio controlado em vinte escolas públicas mostrou que, depois de um ano de oficinas culinárias com as merendeiras e ajustes no cardápio, o consumo diário de bebidas açucaradas entre os alunos caiu cerca de 17 %, pais relataram ter adotado parte dessas mudanças em casa.
Tecnologia ao lado do paciente
Aplicativos que dão feedback em tempo real sobre alimentação e sensores de glicose sem picadas diárias removem barreiras e aumentam a adesão ao cuidado. Quanto mais integradas ao SUS e aos planos privados, maior o impacto.
Por que falar disso agora?
O ano de 2025 marca um ponto de inflexão. Pela primeira vez, o Brasil vê crescer simultaneamente a população idosa, mais propensa a diabetes, e uma geração de jovens que já entra na vida adulta com obesidade. Se nada mudar, o sistema de saúde enfrentará pressões duplas em menos de dez anos.
A boa notícia é que já sabemos onde e em quem agir primeiro. Investir em prevenção nas capitais do Norte e Nordeste, olhar com atenção para mulheres de meia-idade e adotar tecnologia de acompanhamento remoto pode frear a curva antes que ela dispare de vez.
Em outras palavras, compreender o novo mapa da diabetes e da obesidade é passo essencial para redesenhar estratégias de saúde que realmente façam diferença agora e no futuro próximo.